quinta-feira, 28 de julho de 2011

A burrice do amor, por Camões

“Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor,
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?”

(Luiz Vaz de Camões)

Realmente não podem existir, pelo menos não para mim, palavras que melhor descrevam o amor. Li esse soneto pela primeira vez num livro de português qualquer, num dia qualquer, reli e li de novo até decorar.
Escrito em 1595, minha gente!! Nessas horas é que se vê que amor é amor em qualquer época, em qualquer circunstância. Sentimentos não mudam com a moda, com os valores. Por sua vez, a dor de perder o cafajeste que se ama é exatamente a mesma também. Esse nó na garganta acompanhado de uma incomensurável sensação de impotência, aliada a uma inevitável sensação de vazio que chega a tirar o ar… Isso é o que eu sinto e qualquer pessoa vai sentir daqui a 100 anos, e isso é realmente fascinante. Por isso, falar de amor não sai de moda. Amar não sai de moda… Como alguém pode ter sido tão preciso e ao mesmo tempo tão pouco científico, tão pouco técnico e tão emotivo numa descrição?
Como conceituar o amor a não ser dizendo que é algo que arde? Meu Deus! O amor só pode arder! Não existe outra maneira de descrever a forma como se sente isso. E quanto a doer… Como dói! Dói quando não é correspondido; dói quando é, mas não na mesma proporção; dói quando a dúvida sobre a reciprocidade bate; dói quando o outro sofre; dói quando o outro te deixa… Mas, ao mesmo tempo que dói tanto, é como se essa dor fosse tão pequena! Afinal, se ela fosse grande, faria com que a repelíssemos, faria com que o nosso instinto de sobreviência afastasse o motivo dela, como fazemos com todas as outras: se queimar o dedo dói, simplesmente não tocamos no fogo; se bater a cabeça na parede dói, simplesmente não batemos a cabeça na parede. Mas alguém já ouviu falar em alguém que deixou de amar porque amar dói? Por isso também é um contentamento descontente. Às vezes você nem queria estar passando aquilo, porque amar também nos deixa burras, vulneráveis. Entretanto, só nos resta a resignação: não há armas para lutar contra isso.
É um não querer, realmente. Não querer sofrer, não querer que nada de mal aconteça ao dito cujo, à relação; não querer se envolver. E esses “não quereres” só existem porque por trás deles existe algo muuuuuuuuito além de simples bem querer. Esse medo, essa resistência, essa insegurança, só o amor causa.
É solitário andar por entre a gente. Quantas vezes você não se viu em meio a milhares de pessoas, naquele show sensacional, por exemplo, mas sentiu-se solitário? Quantas vezes não esteve entre seus melhores amigos mas sentiu falta daquele conforto que nenhum deles podia te dar? É que, quando existe amor, só aquele dito cujo filho da mãe supre o vazio. Não importa quantas milhões de pessoas especiais existam no mundo. Naquele momento, é só ele que pode resolver a questão. Só ele (aargh).
Por outro lado, as alegrias que o amor traz nunca são suficientes, de maneira a você nunca se sentir satisfeito ao ponto de dizer: “ai, já foi felicidade demais, agora tá bom.” Não há contentamento, há somente uma vontade de ter mais e de querer mais. É uma alegria que transborda, que vem de dentro, que inevitavelmente promove sorrisos…
No amor também não há perdas quando se trata do outro. Não importa qual seja o sacrifício, se você o estiver fazendo por aquele serzinho bendito (ou maldito, vai depender) ele vale a pena e você se sente muito bem, obrigada. Pode até te causar prejuízo, pode representar perdas para você, não importa. Cuidar do serzinho te dar um prazer… Saber como ele está, saber se aquela audiência deu certo, se os exames saíram, se ele está indo bem nos estudos, no trabalho. Difícil é viver sem essas informações, sem cuidar pra que tudo dê certo.
Na parte do “querer estar preso por vontade” é que Camões matou a pau meeesmo! Cara! Tem coisa mais certa que isso? Você diminui as saídas com os amigos, corta a palavra “night” do seu vocabulário, e não quer outra vida! Você é capaz de passar o domingo assistindo ao Domingão do Faustão e se sentir feliz assim. Mais: se você sai, viaja, ou faz qualquer outra coisa sem a presença ou anuência do serzinho (maligno ou benigno, já disse que depende), mooorre de saudades e percebe que as coisas simplesmente não têm graça quando ele não está por perto.
E se, mesmo com toda essa doação, o cara te magoa da forma mais ordinária que seja, você continua sendo leal a ele. Você passa por um período “fechada para balanço” de tal maneira que, se o Jhonny Depp fizer um strip tease para na sua frente, você chora lembrando de como era lindo quando o “serzinho” levantava a camisa. E a lealdade vai além da fidelidade. Ela alcança um patamar que te faz não falar mal dele mesmo que as suas amigas estejam descascando o rapaz; te faz não contar os segredos dele a ninguém; te faz procurar justificativas para cada mancada que ele deu, para cada vez que te destratou, para cada mentira que contou; te faz jogar a culpa de tudo em você mesma, e ficar uma noite inteira acordada perguntando o que você fez de errado, quando no fundo você sabe que não fez.
 Camões estava no auge da inspiração mesmo. Bendita mente “burra” ao ponto de descrever tão bem o amor.

Tirei esse texto do Mulé Burra e lá estava dizendo que quem escreveu foi uma leitora.

Eu adorei! Burrices do amor... daquelas que a gente não vai aprender nunca.

Izza.

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